Afinal, alguém sente a diferença entre uma gravação em uma interface barata e uma cara sendo que a mesma grava em bits e sample rate iguais?
- Alexandre Lachowski
- 22 de mai.
- 7 min de leitura
Afinal, é possível atingir a mesma qualidade de um grande estúdio com a tecnologia acessível?
Pois bem! Que assunto complexo para a maioria né? Até para macacos velhos do áudio muita gente não sabe os fundamentos que distinguem seus próprios equipamentos fora o valor. E sabemos... como existe estúdios por aí hiper-equipados com proprietários ou filhinhos de papais ou magnatas entusiastas que simplesmente compram tudo do bom e do melhor mas, na prática, o resultado dos seus portfólios são piores que muitos suados e dedicados profissionais que literalmente tiram "leite da pedra" e entregam resultados melhores!
But... essa foi uma comparação apenas superficial mas que apenas coloca em spot o conhecimento de cada um, mas vamos pensar na prática o que pode as vezes estar impedindo você de avançar um pouco mais na qualidade das suas mixagens e masterizações!
Primeiramente gostaria de forma humilde falar sobre o assunto pois mesmo estando a mais de 20 anos na estrada, recentemente é que fui ter um conhecimento mais profundo sobre esse assunto particular que quero abordar, e que me deparei de forma pratica.
Vamos começar pelo básico analisando a diferença entre uma interface de áudio baratinha e uma profissional:
Bom, nesse caso os pontos principais que diferem interfaces simples e baratas (digo baratas mesmo) de interfaces profissionais para home studios até as interfaces que custam o valor de uma viagem para Bora-Bora com tudo incluso, são primeiramente 2 pontos de análise para simplificar.
Pré amplificadores. Os pré amp de entrada, seja de mic XLR ou linha possuem grande diferença entre interfaces. O pré é o início da captação do áudio analógico que será enviado para dentro da interface, então ele precisa ser limpo, com ganho de entrada potente para que o áudio entre com o melhor sinal possível, e, principalmente sem ruídos, chiados, ou distorções.
Conversor A/D - D/A (analógico para digital na entrada e na saída digital para analógico novamente). O conversor é papel fundamental em processar o sinal que entra analógico como um microfone ou uma guitarra, e transformar esse sinal em formato digital basicamente composto por código binário como 1010101010. Então pense, para que o áudio seja reproduzido de forma fiel ao que foi captado, o sistema de conversão precisa ser de alta tecnologia e alta resolução, o que chamamos de hi-end. Uma interface barata consequentemente terá conversores com componentes mais simples e para os ouvidos menos treinados pode parecer soar ótimo. Mas ai que entra o segredo que só na prática é possível perceber. Vou exemplificar sem querer denegrir ou exaltar marcas, até porque dependendo a linha do equipamento as coisas mudam.
Quando comecei a trabalhar com áudio, gravação e mix e master em meados de 2003, tinha à disposição um equipamento que era excelente na época. A Digidesign 001 que rodava com o Pro Tools versão 5.1. Na época era uma qualidade excelente e ainda considero ouvindo gravações antigas um bom equipamento, mas que ficou para trás. Hoje a Digidesign virou a Avid que também deu segmento nas versões atuais do Pro Tools, uma das melhores DAWs do mundo e uma das mais usadas ainda na maioria dos estúdios (não vou entrar no assunto de qual DAW e melhor que outra ou se existe diferença entre elas).
Pois bem, anos depois, meados de 2011, eu estava mais dedicado a outra empresa minha e resolvi comprar uma interface barata para fazer minhas produções em meu home studio. Na época era uma M-Audio M-Track das antigas. Posteriormente quando voltei ao mercado poucos anos depois adquiri uma Behringer UMC404HD, com pré amplificação Midas e achei excelente na época. Tempos depois e trabalhando bastante com a Behringer um grande amigo e produtor musical @wandleybala me falou sobre uma interface acessível que possuía um conversor de alta definição, então comprei a Audient ID4, uma interface pequena com uma entrada de mic e outra de linha, suficiente para o trabalho que realizava na época que se baseava em mixar e produzir em home studio clientes de fora do país que não exigiam várias entradas, gravava no máximo um violão, voz, guitarra, etc.
Foi aí que percebi a grande diferença entre os conversores da Behringer e da Audient. Por mais que ambas trabalhassem com bits e sample rate iguais, acima de 96khz e 32 bits (float) o conversor da Behringer possuía uma deficiência nos extremos do espectro dos graves e dos agudos, entregando uma sonoridade imprecisa nos extremos, causando artefatos de áudio, distorções harmônicas indesejáveis, falta de um agudo transparente e um sub-grave macio e definido.
Já a Audient tinha uma fidelidade incrível nessas regiões que são as mais críticas no espectro do áudio digital. Nessas altas e baixas frequências se escondem ruídos maquiados com o áudio resultante de uma falta de conversão de alta definição, que por mais que não sejam notados na soma, eles interferem diretamente no resultado da qualidade da sua mix e master por ocupar um espaço que pode ocasionar problemas de fase, frequências indesejadas, ocupação do headroom da sua mix, dentre outros fatores.
Esse assunto resume-se ao uso de interfaces de áudio ligadas a um computador, diferente de conversores de áudio que não necessitam de um sistema operacional e podem ser endereçados a consoles e sistemas de gravação complexos e periféricos, mas que possuem o mesmo fundamento.

Bom, agora que sabemos o papel dos pré-amplificadores da sua interface e do conversor de áudio, vamos passar para um assunto que é ainda mais complexo e que também pode impedir que o resultado do seu trabalho suba de nível.
Quando gravamos em um ambiente mais simples, no contexto homestudio por exemplo, ocorre de trabalharmos com arquivos de áudio de terceiros, samples, loops, gravação com microfones mais simples, cabos de baixa qualidade ou cruzando cabos de energia (nunca deixe seus cabos de áudio cruzarem cabos de energia), alguns passam por mesas de som baratas sem necessidade, equipamentos como prés externos com problemas em algum componente, enfim... coisas cotidianas de um ambiente para quem não tem condição de ter um estúdio profissional, e que eu mesmo já me vi nessa situação no começo da minha jornada.
Quando você grava algo nesse contexto, há grandes chances do seu áudio ser captado juntamente com uma espécie de ruído chamado DC Offset, que é gerado por situações como as que mencionei. Esse ruído fica integrado ao áudio e é inaudível, porém faz um baita estrago! Primeiramente ele tira a waveform do eixo. O que seria isso? Se você pensar em um gráfico de uma onda sonora você sabe que existe uma linha central que divide a polaridade positiva acima, da negativa abaixo. Normalmente esse áudio é centralizado nessa linha, porém o DC Offset desloca a onda tanto para cima quanto para baixo, causando problemas de fase, aumento repentino de volume ou perda, além de ocupar também um espaço fundamental no headroom da mix o que impede que você consiga masterizar de forma limpa com volume adequado e sem parecer que você foi ao máximo possível na master mas ela ainda soa pequena.
Bom, o DC Offset não é identificável sem uma ferramenta de analise profunda de áudio, como o Izotope RX, ou um plugin que costumei utilizar recentemente muito bom vendido pela Plugin Alliance chamado SPL-HawkEye. Além de ele mostrar se há o DC Offset no seu áudio ele também mostra a real profundidade de bits do seu wav.
Para remover o DC Offset é bem simples, existem ferramentas nativas da maioria das DAWs que possuem um plugin simples de remoção, como do Pro Tools, nativo da Avid, o DC Offset Removal. É só renderizar e pronto! Mas cuidado, se não houver o DC você pode acabar gerando aplicando a ferramenta pela simples inversão.

Agora vamos falar de um caso curioso que pode ocorrer e você nem estar sabendo! Muitas vezes você acha que está trabalhando com um ou mais arquivos de 24bits ou mais, porém com essa ferramenta do HawkEye chamada Bit Check a qual realmente mostra a resolução do seu áudio e desmascara se por algum motivo ele está maquiado em um formato de 24 bits porém não é a verdade, pois por algum motivo, seja por algum arquivo externo como um sample ou loop de má resolução, ou até mesmo um plugin antigo rodando em 32bits em um sistema de 64bits, ou até mesmo um plugin como um limiter que está com o dither ligado convertendo para 16bits mas no fim você exporta o áudio final em 24 bits e, até mesmo por culpa de configurações de projeto, drivers corrompidos, plugins free que não trabalham em 24 bits, ou uma infinidade de possibilidades que ainda não descobri pois me deparei recentemente com esse tipo de situação.
Veja que na imagem acima importei uma mixagem para masterizar a qual o áudio dizia estar em 24 bits e 48.000hz mas ao analisar eu percebi que a informação do áudio limitava-se a no máximo 17 bits, ou seja, o espaço em vermelho entre 16 e 24 bits não contem nada senão puro ruído. O que dificulta o trabalho em uma masterização que além de ter tido perda de profundidade de informação do áudio, ainda contem ruído no fundo que provavelmente vai atrapalhar na hora de tentar obter uma master dinâmica, aberta, limpa, com profundidade para poder trabalhar com plugins emuladores de hardwares analógicos que dão vida ao digital assim como coloração.
Vamos ver uma leitura correta de uma masterização feita dentro de um projeto em 32 bits float e 48.000hz.

A imagem acima demonstra uma boa captação fiel assim como uma exportação fiel ao formato sem interferência de algum agente que possa revelar uma surpresa com bits inferiores ao que acreditava ser 24!
Poisé pessoal, assunto complexo, gostaria de detalhar mais algumas questões que se abrem, mas é de certa forma um resumo para todos prestarem a atenção do que pode interferir na qualidade final do seu trabalho sem saber o porque.
Então pense só... interface barata com conversor de má qualidade + um ambiente cheio de cabos se cruzando, pessoas que tem mania de passar o áudio por uma mesinha Behringer, WattSom, Orion, com o pressuposto de já "timbrar" com o equalizador dessas mesas que só servem pra PA de igreja pequena, entrando na interface, e tendo que lidar com plugins de tudo que é tipo que as pessoas adoram inserir porque viram no YouTube mas mal sabem como funcionam. Resultado: catastrófico!
Dúvidas e comentários é só deixar! Obrigado pela atenção e abraços a todos!
コメント